domingo, 2 de maio de 2010

Gaiola

Li este texto aqui, e poucas vezes as palavras traduziram meu coração com tanta exatidão ao ponto de serem, na verdade, insolentes expondo-me assim. Diz o que, confusamente, tentei dizer a algum tempo para mim mesma. Obrigada Inara, pela permissão de postar seu belíssimo texto.


Eu teria tanta coisa a dizer. Tanta coisa que está me rasgando por dentro, me tirando as forças que eu reuni em todos esses meses. palavras são tão vazias. Eu li tantos livros, e agora, o que me adianta todo o conhecimento dos homens? As faces do amor me dilaceram. você não está aqui, nem sei se um dia voltará a estar. Eu que preparei meu corpo e minha alma pra te receber voltei sozinha pra casa. Meu corpo não aceita os meus pensamentos. Por isso me comprime. Não sei se existe culpa. Existem sim as ilusões. Eu me iludi.não foi com o amor, que esse já é meta eterna da vida. me iludi com a história. Eu sempre achei que esse negócio de viver de histórias acabaria comigo um dia. Quando eu tinha sete anos escrevi minha primeira redação. Não lembro sobre o que. lembro do sorriso do meu pai nascendo ao ver minhas formas no papel " você será escritora", ele disse, e eu guardei um choro no peito, pois esse me parecia o pior destino pra uma pessoa. Escritora era aquela pessoa que ficava sentada em frente à máquina de escrever, sem sons, sem vida, se perdendo em muitas bolinhas de papel amassadas pelo chão. Não, eu nunca quis isso pra mim. Eu queria amar e ser a escolhida. Queria colocar um vestido bem rodado e viver em um castelo de um país distante. Errei de novo. A ilusão que criei não abria espaço pro mundo. Fui egoísta em querer prender o moço na gaiola. É que ele me contava tantas histórias, me trazia um chá amargo que sempre gostei, mas falava que não só pra ele insistir e eu me sentir mais cuidada. Eu queria aquelas mãos quentinha no meu ventre, queria aquecer a vida futura que nasceria ali. Eu criei uma bolha tão frágil... O moço nunca quis morar em um castelo. Nunca quis me trazer chás por amor e nem preparar meu útero para uma vida que eu repartiria com a sua face. O moço queria ser livre. E eu? O que eu sempre quis? Eu olho no espelho e vejo um rosto tão marcado de lágrimas que sinto dó de mim mesmo. Eu não sei o que quero pra mim, e essa dor talvez seja até maior do que a rejeição. Toda vez que me lembro dos olhos duros dele me dá vontade de berrar. Para com isso! Tira essa máscara! Esse não é você, nunca foi. O dia que eu te conheci tudo estava tão leve. Eu deslizei até encontrar você. Como foi bom ver seus olhos vivos procurando os meus!
Não posso mais escrever. Está doendo muito. Preciso parar agora porque meu corpo está comprimindo o meu estômago. Ele não está conseguindo colocar pra fora com essas palavras. Eu amo você.